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A caminho do Chile


Primeiro dia
Quarta feira, 03 de fevereiro de 2010
De Porto Alegre a Livramento (Bra), Rivera e Tacuarembó (Uru)
Distância: 640 km


Porto Alegre (Brasil)


      Como era de se esperar, durante a noite dormi pouco, pois estava um pouco ansioso, às 4h45min já estava no local combinado para o encontro, um posto de combustíveis 24 horas próximo a saída de porto Alegre, ali também já estavam o Paulo e o Fábio, este havia chegado de São Paulo no dia anterior. Conversa vai, conversa vem e nada do Lebai chegar, havíamos acertado para as 5 horas o início da viagem, as 5h15min liguei para a casa dele, a criança ainda dormia, atendeu ao telefone com uma voz “pastosa” e me perguntou que horas eram, disse que passava do horário da nossa partida, ele disse então que o celular não o despertou porque havia pego chuva no dia anterior, tudo bem, esperamos mais um pouco e as 6 horas finalmente partimos para encontrar o restante do grupo na estrada. O dia clareava limpo, com um clima ameno e seco, aos poucos íamos agrupando. Agora na BR 290, ainda na grande Porto Alegre, encontramos o Jardel e o Thiago, este vindo de Belo Horizonte e hospedado na casa do companheiro, vários quilômetros a frente na mesma estrada foi a vez do Fernando se juntar ao grupo e assim completarmos a formação. Nossa velocidade de cruzeiro ficou estabelecida em 100 km/h, minha motocicleta, que normalmente rodava de 20 a 22 km/l agora estava fazendo 15 km/l, fiquei preocupado com aquele consumo anormal e conclui que era o resultado do arrasto criado pelos alforjes laterais, a partir de amanhã mudarei a configuração da bagagem, tirando os alforjes das laterais da moto e colocando apenas um sobre o assento do carona, espero que funcione.
       Quando chegamos a Rivera, cidade uruguaia que faz fronteira com o Brasil, o calor já era de 34º C, almoçamos e mais tarde saímos para trocar Reais por Pesos uruguaios, aproveitei o tempo livre para trocar o pneu dianteiro por um Pirelli MT60, fabricado no Brasil e que aqui custava 76 dólares, o único inconveniente ficou por conta do funcionário da loja de pneus, pois levou mais de uma hora para encaixar as pastilhas no disco de freio, fazendo com que eu perdesse tempo e um pouco de paciência. Mais tarde, após os trâmites no departamento de migração uruguaia, seguimos mais 100 km em direção a Tacuarembó para pernoitar, ao entrarmos na pequena cidade viramos atração por conta de nossas motos e vestimentas, jantamos e após algumas cervejas para matar a sede fomos descansar, amanhã entraremos na Argentina.














Segundo dia
Quinta feira, 04 de fevereiro de 2010
De Tacuarembó e Paysandu (Uru) a Basavilbaso (Arg)
Distância: 340 km
Surpresas: sem gasolina e policiais corruptos

        Saímos um pouco tarde do hotel, pois estava chovendo muito e perdemos um pouco de tempo para proteger nossas bagagens sobre as motos, ao sairmos decidimos que o primeiro abastecimento de gasolina seria na estrada, fora da cidade, para não nos atrasarmos ainda mais a procura de postos de combustível, péssima decisão, pois rodamos por um longo tempo, debaixo de muita chuva e nem sinal de gasolina na estrada, as motos, apesar da chuva, se comportavam muito bem naquele asfalto de excelente qualidade, porém os quilômetros iam passando naquela vastidão uruguaia e nada de combustível, eu já estava um pouco apreensivo e olhava a todo momento para o marcador de gasolina da moto, que  a muito estava estacionado na faixa vermelha, no GPS procurei por alguma indicação de postos de serviço nas proximidades, o mais próximo estava a 40 km da nossa localização, certamente não conseguiríamos alcançá-lo, num momento como este, com pouca gasolina, muita chuva, em uma desconhecida e deserta estrada do Uruguai, a sensação não é das melhores. A chuva dá uma pequena trégua, mas a moto do Japa é a primeira a parar por falta de gasolina,
por sorte a moto do Jardel tem um tanque com maior capacidade e ele cede um pouco de combustível ao companheiro, mas a situação está complicada, não tardará para que outras motocicletas também fiquem sem gasolina, passamos por um posto da polícia rodoviária do Uruguai, resolvemos perguntar onde encontrar gasolina, dizem que em uma fazenda próxima talvez consigamos o produto, e lá vamos nós por uma estradinha de terra e barro a procura do bendito combustível, chegamos em um galpão onde o proprietário vende 5 litros de gasolina a cada um de nós.

     






   Novamente na estrada, agora com muita chuva, seguimos para o nosso destino do dia, a cidade de Rosário, na Argentina, seguíamos em fila indiana dupla, combinamos, por segurança, de sempre estar em contato visual uns com os outros, num certo momento não avisto meus companheiros da retaguarda no retrovisor, resolvi esperá-los para reagrupar, estacionei no acostamento da estrada, como chovia muito e tinha muito barro a moto atolou, meus companheiros passaram rapidamente sem que eu tivesse tempo para chamá-los a me ajudar, e agora? Não podia desmontar e empurrar a moto, pois ela estava muito pesada e o pezinho de apoio não tinha firmeza no barro, nesse momento uma pick-up com placas da Argentina para e o motorista solícito vem ajudar puxando a moto pela suspensão dianteira enquanto eu acelero um pouco, finalmente ela retorna para o asfalto, consternado agradeço ao hermano que emocionado bate no peito e diz: -soy motociclista de corazón!
      À tarde, já com pouca chuva, chegamos a Paysandu, última cidade uruguaia antes de entrar na Argentina, rodamos alguns quilômetros pela área urbana até que alcançamos a ponte internacional Artigas, sobre o rio Uruguai, na aduana fazemos os procedimentos necessários: documentos, carta verde, etc., a medida que vamos sendo liberados passamos para o território argentino, um a um. Para nossa surpresa o Fábio e o Thiago não conseguem passar, pois não providenciaram o tal seguro carta verde lá no início da viagem, como já estávamos do outro lado da fronteira e eles ainda no Uruguai, só nos restava esperar pacientemente enquanto eles providenciavam o documento em Paysandu. Imagine esta situação: dois motociclistas brasileiros, um paulista e outro mineiro, com pouquíssimo ou nenhum domínio do idioma espanhol, adentrando com suas motocicletas carregadas de bagagens em uma desconhecida e movimentada cidade uruguaia, a procura de um escritório de despachante e posteriormente a procura de uma agência bancária para adquirir um seguro carta verde, uma verdadeira odisséia. Enquanto isso o restante do grupo esperava pacientemente pelos heróis no estacionamento da aduana argentina. Aproveitamos o tempo ocioso para entre outras coisas fazer um lanche junto às motos, além de pequenas vistorias nas mesmas, alguns usaram o tempo para fazer a barba e outros para raspar suas carecas (o Paulo jura que o aparelho cor de rosa que ele estava usando era da sua filha, hehehehehe), tudo isso acontecendo sob o olhar curioso de uma multidão de argentinos e uruguaios que passavam por aquela fronteira.




























      A preocupação com os dois companheiros aumentava a medida que o tempo passava pois àquela altura poderiam ter se perdido um do outro e estar vagando pela cidade... mas, após duas horas eis que surgem nossos heróis exibindo orgulhosos suas cartas verdes, só lamentaram quando ao passarem pelo guiche da aduana a funcionária não ter pedido o maldito documento.
      Novamente reagrupados partimos em direção a cidade de Rosário, antes fizemos nosso primeiro abastecimento dentro da Argentina, foi uma alegria quando soubemos que pagaríamos R$ 1,60 por cada litro de gasolina, só para esnobar pedi ao frentista para encher o tanque com a gasolina Fangio, a R$ 2,00 o litro, que maravilha!!! Aproveitei nossa parada no posto de combustíveis para relembrar o grupo que em breve estaríamos rodando na Ruta 14, uma famigerada estrada argentina conhecida por seus patrulheiros rodoviários, achacadores de turistas, por esta razão, tínhamos que ter toda atenção com os limites de velocidade. Muitos brasileiros já passaram pelo dissabor de serem achacados em plena luz do dia nesta estrada, conheço dois motociclistas gaúchos que ao passarem por esta rodovia, um com uma Hayabusa e outro com uma Suzuki Srad foram depenados em R$ 400,00 cada um, um verdadeiro abuso!
      E lá estávamos nós rodando os primeiros quilômetros da Ruta 14 quando em uma barreira policial um patrulheiro faz sinal para irmos para o acostamento, eram uns quatro ou cinco policiais e uma viatura, um tal de Gutierrez se encarregou de comunicar a cada um de nós que iríamos ser multados por excesso de velocidade em um determinado trecho da estrada, tentamos argumentar, alegando que sempre estivemos rodando abaixo da velocidade máxima permitida além de estarmos em seu país a turismo, mas ele parecia não se importar com nossos argumentos, disse que se não pagássemos 800 dólares  pelas sete motocicletas diretamente a eles enfrentaríamos dificuldades quando tentássemos sair da Argentina, pois a aduana nos cobraria um valor equivalente a mil litros de gasolina, o Paulo e o Fernando, que dominavam melhor o idioma espanhol
tentavam explicar que não tínhamos excedido nenhuma norma de trânsito e que, se pagássemos o valor solicitado não teríamos como continuar nossa viagem por seu país pois ficaríamos com pouca “plata” tendo que voltar para casa a partir dali. Gutierrez, irredutível em seu objetivo de nos “achacar” apenas reduziu o valor para 20 dólares por motocicleta, enquanto isso seus colegas patrulheiros, apesar de estarem envolvidos com o movimento na estrada, não perdiam os detalhes da negociação, talvez para evitar serem logrados mais adiante na divisão da propina. Contrariados, desembolsamos o dinheiro, estávamos indignados por tamanho abuso, felizmente este é um procedimento isolado no dia a dia do povo argentino, pois como vim a constatar mais tarde, a maioria das pessoas desse país é cordial, educada e hospitaleira.



    Perdemos um bom tempo devido a esta trapalhada causada pelos policiais, só nos restou então alterar o plano de pernoitar em Rosário e procurar outra cidade mais próxima para passarmos a noite, com o auxílio de mapas e do GPS chegamos então a Basavilbaso, pequena cidade agrícola às margens da rodovia, jantamos e com uma cerveja brindamos “educadamente” a Gutierrez, o policialzinho que a partir de agora e até o final desta viagem seria lembrado com brindes de cerveja, amanhã pretendemos rodar 800 km até San Luis.


Motoviagem ao Chile (1ª parte) Porto Alegre (Brasil) a Mendoza (Argentina)

2ª parte - Mendoza (Argentina) a Viña del Mar (Chile)

3ª parte - Viña de Mar (Chile) a Pucón (Chile)

4ª parte - Pucón (Chile) a Porto Alegre (Brasil)